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Posts Tagged ‘Relações Públicas’

 

Soube pelo Martins Lampreia, no Twitter, que morreu no dia 30 de novembro Domingos Avellar Soeiro, considerado o pioneiro das relações públicas em Portugal. Perdão, o primeiro Public Relations. Até ao final da sua vida, não aceitou a tradução da expressão anglo-saxónica, considerando-a “facilitista”, e relembrava que outros vocábulos se mantiveram no original, como “marketing” ou “franchising”.

E foi de facto com a função de “Public Relations” no LNEC que iniciou a sua carreira na área. Aconteceu por acaso, ao descobrir o anúncio acima reproduzido no Diário de Notícias de 31 de Novembro de 1959 (curiosamente, há quase exactamente 60 anos).

Reza a lenda que o LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil) foi a primeira organização portuguesa a contratar um Public Relations e a apostar na transparência e abertura da instituição aos media e à sociedade. Tudo graças à visão do seu director à época, Engº Manuel Rocha.

Depois de três décadas no LNEC, Avellar Soeiro foi, nos anos 90, director do gabinete de PR do Centro Cultural de Belém.

Foi ainda fundador de duas empresas de consultoria, a “Ponte Internacional Lda”e a “PRIL – Public Relations International Ltd”, que não sobreviveriam ao ano quente de 1975.

Distinguiu-se também no associativismo. Foi fundador da extinta SOPREP (Sociedade Portuguesa de Relações Públicas) em 1968, que adoptou em 1970 o primeiro código de ética da profissão, conhecido como o Código de Atenas.

Lutou, desde 1971 até à sua morte, pelo reconhecimento oficial da profissão em Portugal. Processo sucessivamente protelado ao longo de vários governos… até ao actual.

Foi também pioneiro da expressão “Código de Lisboa”. Sim, antes do recente código aprovado pela ONU, Avellar Soeiro conseguiu que a CERP (Confederação Europeia das Relações Públicas) aprovasse em 1978, na capital portuguesa, o Código de Conduta Europeu da Profissão de RP.

Premonitoriamente (?), Rogério Ferreira de Andrade, professor da cadeira de RP da licenciatura em Ciências da Comunicação da UNL, publica aqui a, suponho que última, entrevista a Avellar Soeiro. E deixa a seguinte reflexão: 50 anos depois, o estatuto da profissão não parece ter mudado muito. No entanto, continua a atrair milhares de jovens.

Eu diria que tem que evoluir. O Código de Conduta da APCE é o primeiro passo para o processo de acreditação da profissão. Temos de trabalhar, a sério, neste projecto.

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Têm surgido diversas sondagens, opiniões e comentários sobre o crescente papel das Relações Públicas na produção de conteúdos para os media. Num sentido tendencialmente pejorativo, fala-se de “spin nas notícias”, deixando alguns autores insinuar que os profissionais de RP formatam informação à sua medida e que esta é cegamente replicada pelos jornalistas. A conclusão simplista é que cada vez menos devemos acreditar naquilo que lemos, ouvimos ou vemos.

Esta questão é muito interessante porque na realidade põe em causa várias profissões: os profissionais de relações públicas (vulgo assessores de comunicação) e os jornalistas, mas também todos aqueles que produzem e são fontes de informação, como especialistas, políticos, polícias ou cientistas. Não é pois com certeza a fonte que determina a credibilidade das notícias.

Outro aspecto muito relevante desta questão são os custos da informação. Num aceso debate ontem no Twitter, o director do Expresso dizia “Conteúdos fiáveis custam dinheiro”. Não é pois de admirar que os estudos – da Austrália aos Estados Unidos – mostrem que apenas entre 5 a 15 por cento das notícias são desencadeadas por pura investigação jornalística. Todo o resto vem das mais variadas fontes. São os custos, claro, para uma indústria que está desesperadamente à procura de um novo modelo de negócio.

No caso do profissional de comunicação e relações públicas (interno à organização ou de uma consultora), não é por ele ter objectivos concretos no fornecimento de uma informação que a torna falsa ou enviezada. O que pode acontecer – acontece cada vez mais – é a falta de tempo dos jornalistas (e outros distribuidores de informação, como os bloggers) para aprofundarem as matérias ou até mesmo para confirmarem ou confrontarem as histórias que lhes são contadas.

Tal pressupõe que ambas as profissões observem as mais elementares regras de uma relação win-win. O profissional de comunicação e relações públicas tem como dever deontológico não falsificar informação e o jornalista tem o dever de exigir a fiabilidade dos factos e, se se sentir “manipulado” ou “enganado”, confirmar, cruzar ou desprezar essa informação.

Se as Relações Públicas “conduzem a agenda dos media”, é porque os bons profissionais fazem o seu trabalho, pesquisando, estudando tendências, preparando e fornecendo boas matérias para os jornalistas. Isto é bom para estes e para as suas empresas em dificuldades.

O que para ambos é fundamental, é rejeitar liminarmente, e sem pudores,  a teoria do “spin” como base das suas respectivas missões. É mais, portanto, o que os une do que aquilo que os separa.

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Um post aqui suscitou a reacção da APCE aqui.

Somos, de facto, um país onde o associativismo é fraco. Fraco na mobilização dos interessados e, consequentemente, fraco na capacidade de intervenção e influência, quer interna quer externamente.

No caso concreto da Comunicação e das Relações Públicas, foram várias as associações criadas ao longo dos anos para congregar interesses específicos de uma profissão e uma carreira de difícil enquadramento e com entendimentos muito latos.

A APCE – Associação Portuguesa de Comunicação de Empresa conseguiu finalmente, nos últimos anos, afirmar-se, crescer, captar novos e velhos profissionais, criar pontes com as principais congéneres estrangeiras e lançar, pela primeira vez, um Código de Conduta (para o qual tive o prazer de contribuir). O objectivo último: a credenciação e dignificação de uma profissão em crescimento (eventualmente descontrolado).

Desconheço as motivações de uma putativa nova associação, mas pergunto-me se os seus promotores conhecem a APCE e se os seus objectivos – certamente nobres – não poderão ser atingidos procurando integrar propostas e novos insights no seio de uma comunidade aberta a todos os que vierem por bem – mais uma vez, por bem da profissão.

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