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Convidado: Joaquim Martins Lampreia

O sociólogo William Thomas formulou em 1928 um conceito que ficou conhecido como o teorema de Thomas, e a actual falta de açúcar no nosso mercado constitui um exemplo bem ilustrativo da aplicação deste teorema, que basicamente pode ser enunciado da seguinte forma:

“ Aquilo que as pessoas assumirem como verdadeiro, mesmo não o sendo, tem consequências verdadeiras”.

Dava como exemplo o sistema bancário, em que todos nós assumimos que quando depositamos o nosso dinheiro num banco, esse dinheiro estará lá à nossa disposição, podendo nós levantá-lo sempre que quisermos. Mas na realidade, o nosso dinheiro, como bem sabemos, não fica parado no banco, que vai reutilizá-lo para empréstimos e transacções financeiras diversas.

E se um dia, todos os clientes desse banco se lembrassem de levantar os seus depósitos ao mesmo tempo, estariam perante um imenso problema, pois o banco não teria lá o seu dinheiro.

Todos nós sabemos isso, e no entanto, todos assumimos que o dinheiro está sempre lá, à nossa disposição, mesmo não sendo essa a realidade.

E é essa assumpção colectiva que permite que o nosso sistema bancário e financeiro funcione em pleno.

Encontraremos muitos exemplos semelhantes, desde as situações mais banais que ocorrem no nosso dia a dia, (e de que a maior parte das vezes nem damos por elas), até situações bem mais complexas relacionadas com todo um sector de actividade ou mesmo na esfera politica.

Em comunicação, o teorema de Thomas é aplicado com muito mais frequência do que se pode supor, tanto através da publicidade, como das Relação Publicas, em Gestão de Crise, em Comunicação Politica ou no Lóbi. O que é normal, considerando que a comunicação é a base de sustentação deste conceito. Sem comunicação entre várias partes envolvidas, o teorema de Thomas não teria razão de existir, nem nunca poderia ser aplicado.

Compreende-se assim o importante papel que os Mass Media podem desempenhar em todo este processo.

E não posso deixar de aproveitar a última situação vivida em Portugal com a escassez de açúcar, para ilustrar esta ideia.

O facto de haver temporariamente menos açúcar no mercado, não constitui de per se um problema de maior, nem leva a esgotar prateleiras de supermercados. Como aliás acontece ciclicamente de forma idêntica com outros produtos, alimentares ou não, e em que a situação não chega sequer a ser percebida pela maioria dos consumidores.

No caso vertente, foi por alguns órgãos de informação se terem referido à situação com algum alarmismo (ignoro se o fizeram espontaneamente ou se a isso foram induzidos) que gerou a preocupação colectiva do açúcar poder acabar.

A partir do momento em que as pessoas assumiram que o açúcar ia faltar por completo (mesmo não sendo essa a realidade) é que se gerou uma onda de pânico, levando a um açambarcamento do produto, e que teve como desfecho a falta (real) de açúcar nas prateleiras das mercearias e supermercados.

A assumpção generalizada (e errada) de que o açúcar ia faltar, teve como consequência real a total falta do produto no mercado.

É fácil imaginar um cenário totalmente diferente, se os Media não tivessem referido o caso, muito provavelmente a opinião pública nem se teria apercebido da situação e a escassez temporária do produto certamente nem se teria feito sentir.

A terminar, chamo a atenção para o facto da aplicação desajustada do Teorema de Thomas em qualquer das áreas da Comunicação poder revelar-se um pau de dois bicos, e ter efeitos perversos e totalmente opostos aos desejados.

Viu-se essa tentativa recentemente em Comunicação Politica, quando um governante afirmou que a economia estava a recuperar, com todos os incómodos que essa declaração causou ao governo…

J. Martins Lampreia

Consultor/Lobista

 

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Acabam de ser revelados os resultados do European Communication Monitor 2010, apresentados a semana passada em Bruxelas. O inquérito foi realizado em 46 países europeus com 1955 participantes, incluindo profissionais de comunicação portugueses.

Entre as várias conclusões, importantes para a auto-avaliação e caminhos de progressão dos profissionais de comunicação organizacional, destaca-se:

– os Departamentos de Comunicação são percepcionados como excelentes, pelos próprios responsáveis,  quando são capazes  envolver stakeholders (85,8%), mobilizar pessoas (82,1%) e influenciar processos de gestão (81,8%)

– 72,1% dos profissionais de comunicação consideram que ajudam a atingir os objectivos de negócio através da criação de intangíveis como a marca, a reputação e a cultura organizacional.

– 75,5% dos profissionais de comunicação consideram que  são vistos como influenciadores de decisão pelo top management

– Comunicação Interna e Gestão da Mudança (+7,3%), Sustentabilidade e Responsabilidade Social Corporativa (+9,9%) e Personal Coaching e Formação (+9,6%) são as áreas de maior crescimento no horizonte de 2013

– Media sociais (+37%), Online media (+19,1%) e Comunicação online (+13,3%) representam os canais ou instrumentos de comunicação de maior crescimento.

Refinando um pouco a análise, percebemos que os profissionais de comunicação ainda têm a percepção que o seu foco é no apoio à estratégia usando actividades de comunicação, mas em menor percentagem se sentem responsáveis pela definição dos objectivos organizacionais, acrescentando a dimensão da comunicação à formulação da estratégia. Há, como dizem os autores do estudo, pouco “inbound”. Os profissionais de comunicação são sobretudo “boundary-spammers”, isto é falam e ouvem para fora da organização . Falam pouco para dentro da organização.

Assumem-se portanto mais como facilitadores de estratégias do que propriamente “business advisors”. Escusado será dizer que são os consultores e os profissionais das agências/consultoras de comunicação o segmento que mais se sente influenciador e participante nas estratégias das organizaçãoes. Contudo e no geral, os profissionais sentem que o seu papel de influenciador e conselheiro de confiança tem vindo a crescer.

Na perspectiva da evolução profissional, não deixa de ser curioso e significativo que, logo a seguir à formação, o networking seja encarado como uma das vertentes mais importantes no desenvolvimento pessoal e profissional. Está assim mais que justificado o crescente interesse dos profissionais pelo associativismo – em Portugal, os profissionais juntam-se em torno da APCE – e, também, pelos encontros mais informais que estão a ter grande adesão, os PR After Work dinamizados pelo Rodrigo Saraiva.

Agradeço ao Rui Martins, Coordenador Regional para Portugal da EACD, a disponibilização do estudo.

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Uma das minhas colaboradoras, formada no ISCSP, comentou hoje, com satisfação,  o “salto de qualidade” e afirmação a sua antiga escola.

De facto, temos acompanhado as iniciativas do Núcleo de Ciências da Comunicação e, da oferta que conheço no mercado português, a qualidade dos temas, programas e oradores do ISCSP, resulta um nível superior de interesse e oportunidades que os profissionais de comunicação podem – e devem – aproveitar.

Pensado primariamente para os seus alunos (um luxo), os eventos do ISCSP procuram trazer o melhor do mundo profissional para o mundo académico. Mas, é bom dizê-lo, traz também aos profissionais o acesso a experiências e contactos com outros profissionais. Num momento de crise, eis uma oportunidade para empresas e comunicadores investirem na sua formação.

aqui referimos um interessante seminário sobre marketing de turismo e marketing de luxo a que tivemos oportunidade de assistir.

Agora, o ISCSP brinda–nos com um cartaz de luxo nas “Jornadas da Comunicação 2010”. Deixo-vos aqui o programa. E deixo os meus parabéns à  organização na pessoa de Prof. Raquel Ribeiro, grande dinamizadora da escola e autora de um blog sobre marketing e comunicação, aqui referenciado no lado direito.

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Por António Guerreiro, in Actual, Expresso

Fazendo uma arqueologia do espaço público, Habermas mostra que o princípio em que se baseia a verdade do Estado moderno é a ideia do povo soberano, que deve, por sua vez, exprimir-se sob a forma da opinião pública.

Se a lógica de um Estado de coisas se torna facilmente apreensível nos seus fenómenos extremos, então devemos pensar que nada ilustra melhor a perversão dessa ideia moderna de opinião pública do que o lixo opinativo dos blogues e das caixas de comentários dos leitores dos jornais online-caricaturas grotescas da hipertrofia da opinião mediática.

Este fluxo imparável da opinião é o oposto da liberdade de pensamento e comunicação.

É uma conversa que se molda inteiramente pela vontade do reconhecimento e segundo os critérios que são os de uma ortodoxia partilhada  pelo  grupo a que se pertence, simetricamente recusada por outros grupos cuja aspiração é a mesma: triunfar nas guerras da opinião e ocupar um lugar nesta opinião e ocupar um lugar nesta dialéctica sem síntese.

Faz lembrar a história contada por Hegel: uma vendedora de ovos a quem um cliente diz “Os seus ovos estão estão podres” responde por seu turno, ” Podre está o senhor, e a sua mãe, e a sua avó.”

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Têm surgido diversas sondagens, opiniões e comentários sobre o crescente papel das Relações Públicas na produção de conteúdos para os media. Num sentido tendencialmente pejorativo, fala-se de “spin nas notícias”, deixando alguns autores insinuar que os profissionais de RP formatam informação à sua medida e que esta é cegamente replicada pelos jornalistas. A conclusão simplista é que cada vez menos devemos acreditar naquilo que lemos, ouvimos ou vemos.

Esta questão é muito interessante porque na realidade põe em causa várias profissões: os profissionais de relações públicas (vulgo assessores de comunicação) e os jornalistas, mas também todos aqueles que produzem e são fontes de informação, como especialistas, políticos, polícias ou cientistas. Não é pois com certeza a fonte que determina a credibilidade das notícias.

Outro aspecto muito relevante desta questão são os custos da informação. Num aceso debate ontem no Twitter, o director do Expresso dizia “Conteúdos fiáveis custam dinheiro”. Não é pois de admirar que os estudos – da Austrália aos Estados Unidos – mostrem que apenas entre 5 a 15 por cento das notícias são desencadeadas por pura investigação jornalística. Todo o resto vem das mais variadas fontes. São os custos, claro, para uma indústria que está desesperadamente à procura de um novo modelo de negócio.

No caso do profissional de comunicação e relações públicas (interno à organização ou de uma consultora), não é por ele ter objectivos concretos no fornecimento de uma informação que a torna falsa ou enviezada. O que pode acontecer – acontece cada vez mais – é a falta de tempo dos jornalistas (e outros distribuidores de informação, como os bloggers) para aprofundarem as matérias ou até mesmo para confirmarem ou confrontarem as histórias que lhes são contadas.

Tal pressupõe que ambas as profissões observem as mais elementares regras de uma relação win-win. O profissional de comunicação e relações públicas tem como dever deontológico não falsificar informação e o jornalista tem o dever de exigir a fiabilidade dos factos e, se se sentir “manipulado” ou “enganado”, confirmar, cruzar ou desprezar essa informação.

Se as Relações Públicas “conduzem a agenda dos media”, é porque os bons profissionais fazem o seu trabalho, pesquisando, estudando tendências, preparando e fornecendo boas matérias para os jornalistas. Isto é bom para estes e para as suas empresas em dificuldades.

O que para ambos é fundamental, é rejeitar liminarmente, e sem pudores,  a teoria do “spin” como base das suas respectivas missões. É mais, portanto, o que os une do que aquilo que os separa.

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O arigo de hoje de João Adelino Faria  no Diário Económico constitui uma corajosa declaração de um profissional de comunicação sobre a ilusão da informação que diariamente nos entra porta (televisão) dentro.

A propósito da Comissão de Ética no Parlamento, transmitida ao que parece com elevado share na AR TV e outros canais, JA Faria tece várias considerações sobre os efeitos nefastos dos directos televisivos. Como profissional experiente, ele sabe que “Muitas das convicções que algumas pessoas defendem e dizem acreditar antes do directo, passam, em segundos, a ter uma versão completamente diferente assim que começa a transmissão televisiva.”

Esta realidade anula a presunção da “verdade” que a televisão pretende mostrar (assistimos hoje a simples cidadãos a exibirem verdadeiras performances de actores, incluindo “remakes”…) e que molda, definitivamente, crenças e atitudes de toda uma população.

José Adelino vai ainda mais longe quando, referindo-se concretamente à Comissão de Ética e duvidando da sua utilidade na busca da verdade, constata aquilo que é  mais mortal para duas nobres profissões : assistir a “alguns deputados a fazer de jornalistas e jornalistas a comportarem-se como políticos”.

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Foi recentemente lançado o 2.º Prémio de Jornalismo na Área da Saúde Mental, uma iniciativa da Fundação AstraZeneca com a Coordenação Nacional para a Saúde Mental, a Casa de Imprensa e a Associação Encontrar-se.

O objectivo é premiar trabalhos jornalísticos publicados entre Julho de 2009 e Julho de 2010 (imprensa, rádio, televisão e internet) que contribuam para um maior conhecimento social das doenças mentais e para a promoção do anti-estigma associado à Saúde Mental.

Na primeira edição foram a concurso 50 peças. O primeiro prémio foi atribuído à Grande Reportagem da SIC Mentes Inquietas.

De acordo com dados recentemente divulgados pela Coordenação Nacional para a Saúde Mental no Fórum Gulbenkian de Saúde 2010 – “Mind Faces. As diferentes faces da saúde mental”*, mais de um milhão de portugueses sofre em cada ano uma perturbação mental.

Não podemos de facto ficar indiferentes a estes números, assumindo o tema deste prémio uma relevante e crescente pertinência. Os media têm um importante papel a desempenhar na promoção de uma sociedade civil informada que, no que toca à temática da “saúde mental”, deve ser cada vez mais aprendente e integradora.

* No âmbito deste fórum, será apresentado, no próximo dia 23 de Março, um estudo de âmbito nacional sobre Morbilidade Psiquiátrica em Portugal. É na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, às 16h30, com entrada livre.

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Foto retirada do DN online

O debate ontem à noite entre dois candidatos à presidência do PSD foi revelador de como a comunicação é uma ciência complexa e de como hoje uma figura pública tem de saber navegar em várias águas.

Paulo Rangel, que desceu à terra com a aura do “tribuno implacável” teve o mais duro embate até agora da sua curta vida política num meio e num formato bem distintos da redoma parlamentar. A televisão é implacável na imagem e o debate face-a-face exige capacidades de riposta, “bridging” e “fair-play” que Rangel claramente não domina.

Passos Coelho demonstrou que a longa “rodagem”, e certamente muito treino em “media delivery” são tão ou mais importantes que a mensagem. Coelho tem ainda uma evidente vantagem em termos de imagem (embora a extrema finura dos lábios lhe empreste um ar sempre contrito) e beneficia de incontestáveis dotes de timbre e colocação de voz.

Mas,  como disse Ricardo Costa, o que parece ser evidente em termos de opinião pública em geral (parece incontestável que Passos Coelho venceu o debate) é pouco relevante em termos dos resultados das directas. Aí, as qualidades de oratória e o discurso provocador poderão conquistar uma plateia que, à míngua de poder há tantos anos, decida apostar na truculência atrevida de Rangel. Porque na comunicação interna, o populismo também tem os seus resultados.

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A melhor certeza que os nossos filhos não se deslumbram com as redes sociais, foi o alerta que o meu adolescente de 14 anos me deu hoje em relação ao “Leitão 2010”, o tão badalado (e esperado) mega-encontro de twitters que vai acontecer no próximo domingo.

“Acho que se arriscam a grandes desilusões com este encontro de twitters” “Porquê’?” “Porque vão descobrir que algumas caras não têm nada a ver com os avatares, que os deputados são míudos de 13 anos que andaram a gozar a vossa cara, que aquele tipo que parecia interessante e charmoso é um grandessíssimo nerd… Cuidado.”

Não sendo ele frequentador da rede twitter, que conhece apenas pelos meus comentários em família, o que este “aviso” ilustra é que as novas gerações, nadas  e criadas na internet, são bem mais prudentes e realistas que muitos adultos.

Para além de ser reconfortante, é um bom indicador para as marcas que comunicam com esta geração e com os adultos que eles serão daqui a poucos anos. Muito realismo e muita sinceridade, é o que eles querem.

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“Crise”, esta pequena palavra que ganhou nos últimos tempos uma nova dimensão, deveria ser eleita como uma das “palavras do século” em Portugal.

Todos sabemos que os portugueses tendem a sofrer um pouco de pessimismo e negativismo agudo… à pergunta: “então como estás?”, o mais certo é responderem-nos com um “vai-se andando”, e nunca com um “está tudo óptimo, melhor seria impossível”. E como sempre, se a culpa de tudo não for do Governo, é com toda a certeza, culpa da crise.

Com a desculpa da tão falada crise, a maior parte das empresas opta por um adormecimento colectivo, o que sinceramente me tira do sério. A falta de capacidade de grande parte das empresas portuguesas em enfrentar as adversidades leva a que o nível de desânimo empresarial cresça de dia para dia numa espiral que parece não ter fim.

As empresas encontraram na crise uma fantástica desculpa para emagrecerem os seus investimentos em comunicação, acto que, quanto a mim, não poderia estar mais errado. O facto dos lucros estarem abaixo do desejado, levou a um corte imediato nos investimentos em comunicação. Na verdade, é em momentos de grande dificuldade que as empresas deveriam apostar em comunicação, optando assim por transformar uma adversidade numa oportunidade de comunicarem, de estarem presentes, de estarem visíveis em relação à concorrência e bem assim, galvanizarem novas oportunidades de negócio.

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